Esta é, sem dúvida, a obra de maior conteúdo
dramático do artista.
Menino Morto faz parte da série Retirantes e mostra o sofrimento
do sertanejo diante de uma realidade muito triste: a mortalidade
infantil por falta de condições mínimas de
sobrevivência.
Portinari quer que vocês vejam que muitas crianças
do Nordeste brasileiro morrem cedo.
É uma imagem muito forte e marcante, não é
mesmo, amiguinho?
Uma família constituída por seis pessoas - pais e
irmãos - seguram uma criança morta nos braços.
Eles choram. Repare, colega, como as lágrimas parecem pedrinhas
de tão grande que são. Candinho pintou as lágrimas
muito maior do são na realidade para mostrar o quanto é
grande o sofrimento das pessoas, que estão com fome e cansadas.
As mãos do pai que seguram a criança representam o
ponto principal da obra. Ao olhar para ela, a primeira coisa que
você verá é a criança morta. Isso porque
as mãos são exageradamente grandes e desproporcionais,
já o restante do corpo é normal
Portinari é certamente o pintor do modernismo brasileiro
mais conhecido no exterior, autor dos dois grandes painéis
(um sobre a guerra, outro sobre a paz) existentes no edifício-sede
das Nações Unidas, em Nova York (1957). A partir da
década de 40, transformou-se numa espécie de artista-símbolo
e artista de exportação da nação brasileira.
Realizou outros trabalhos nos Estados Unidos, inclusive na Biblioteca
do Congresso, em Washington. Várias telas suas entraram para
coleções particulares norte-americanas.
Mas Portinari não pertenceu à primeira geração
modernista, nem, a rigor, começou como um artista moderno.
No mesmo ano em que se realizava a Semana de Arte Moderna, em 1922,
era, muito jovem, premiado no Salão Nacional de Belas Artes,
um reduto do tradicionalismo. Só em 1931, de volta ao Brasil
após dois anos na Europa, expôs no Rio de Janeiro as
primeiras obras que indicavam sua necessidade de renovação,
tanto temática quanto estilística. Sofreu então
certa influência dos muralistas mexicanos, que aparece em
Café, uma de suas primeiras grandes telas de conteúdo
social. Era homem de esquerda - pertenceu ao Partido Comunista -
e artista engajado, e consagrou sua obra à denúncia
das mazelas do País subdesenvolvido que existia a seu redor.
Um pouco influenciado também pelas fases mais dramáticas
de Picasso, realizou em meados dos anos 40 obras excepcionais, como
Menino Morto e Enterro na Rede. Fazem parte de uma vasta série
sobre os retirantes - os emigrantes da região Nordeste do
Brasil que, assolados pela seca, abandonam suas terras em busca
de melhores condições de vida, sem sucesso.
Portinari colaborou também com obras de artes aplicadas,
como pinturas murais e painéis em azulejos, em alguns dos
primeiros projetos da arquitetura moderna no Brasil. Entre eles,
o antigo Ministério da Educação, no Rio de
Janeiro (risco original de Le Corbusier) e a Igreja da Pampulha,
de Oscar Niemeyer, em Belo Horizonte (1944/45). E, embora não
seja este seu filão mais importante, realizou ainda grandes
painéis de temas históricos.
Portinari foi um artista muito dotado, um grande desenhista, um
grande colorista, dono de uma técnica impecável. Justamente
por isso, às vezes o acusam de um tradicionalismo disfarçado.
A acusação é excessivamente rigorosa. Sua posição
hoje é a de um mestre fundamental, mesmo que sem o grau de
inventividade de linguagem ímpar, como o de Volpi.
Candido Portinari nasce no dia 30 de dezembro de 1903, numa fazenda
de café, em Brodósqui, no interior do Estado de São
Paulo.Filho de imigrantes italianos, de origem humilde, recebe apenas
a instrução primária e desde criança
manifesta sua vocação artística.
Aos quinze anos de idade vai para o Rio de Janeiro, em busca de
um aprendizado mais sistemático em pintura, matriculando-se
na Escola Nacional de Belas-Artes.
Em 1928 conquista o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro, da Exposição
Geral de Belas-Artes, de tradição acadêmica.
Parte em 1929 para Paris, onde permanece até 1930.Longe de
sua pátria, saudoso de sua gente, decide ao voltar ao Brasil,
no início de 1931, retratar em suas telas o povo brasileiro,
superando aos poucos sua formação acadêmica
e fundindo à ciência antiga da pintura, uma personalidade
moderna e experimentalista.
Em 1935 obtém a segunda Menção Honrosa na
exposição internacional do Instituto Carnegie de Pittsburgh,
Estados Unidos, com a tela Café, que retrata uma cena de
colheita típica de sua região de origem.
Aos poucos, sua inclinação muralista revela-se com
vigor nos painéis executados para o Monumento Rodoviário,
na Via Presidente Dutra, em 1936, e nos afrescos do recém
construído edifício do Ministério da Educação
e Saúde, no Rio de Janeiro, realizados entre 1936 e 1944.
Estes trabalhos, como conjunto e como concepção artística,
representam um marco na evolução da arte de Portinari,
afirmando a opção pela temática social, que
será o fio condutor de toda a sua obra a partir de então.
Companheiro de poetas, escritores, jornalistas, diplomatas, Portinari
participa de uma notável mudança na atitude estética
e na cultura do país. No final da década de trinta
consolida-se a projeção de Portinari nos Estados Unidos.
Em 1939 executa três grandes painéis para o Pavilhão
do Brasil na Feira Mundial de Nova York e o Museu de Arte Moderna
de Nova York adquire sua tela Morro. Em 1940, participa de uma mostra
de arte latino-americana no Riverside Museum de Nova York e expõe
individualmente no Instituto de Artes de Detroit e no Museu de Arte
Moderna de Nova York, com grande sucesso de crítica, venda
e público. Em dezembro deste ano a Universidade de Chicago
publica o primeiro livro sobre o pintor: Portinari, His Life and
Art com introdução de Rockwell Kent e inúmeras
reproduções de suas obras.
Em 1941 executa quatro grandes murais na Fundação
Hispânica da Biblioteca do Congresso, em Washington, com temas
referentes à história latino-americana. De volta ao
Brasil, realiza em 1943, oito painéis conhecidos como Série
Bíblica, fortemente influenciado pela visão picassiana
de 'Guernica' e sob o impacto da Segunda Guerra Mundial.
Em 1944, a convite do arquiteto Oscar Niemeyer, inicia as obras
de decoração do conjunto arquitetônico da Pampulha
em Belo Horizonte, Minas Gerais, destacando-se na Igreja de São
Francisco de Assis, o mural São Francisco (do altar) e a
Via Sacra, além dos diversos painéis de azulejo. A
escalada do nazi-fascismo e os horrores da guerra reforçam
o caráter social e trágico de sua obra, levando-o
à produção das séries Retirantes (1944)
e Meninos de Brodósqui (1946), assim como à militância
política, filiando-se ao Partido Comunista Brasileiro, sendo
candidato a deputado em 1945, e a senador em 1947.
Em 1946, Portinari volta a Paris para realizar, na Galeria Charpentier,
a primeira exposição em solo europeu. Foi grande a
repercussão, tendo sido agraciado, pelo governo francês,
com a Legião de Honra.
Em 1947 expõe no Salão Peuser, de Buenos Aires e
nos salões da Comissão Nacional de Belas Artes, de
Montevidéu, recebendo grandes homenagens por parte de artistas,
intelectuais e autoridades dos dois países. O final da década
de quarenta assinala na obra do artista, o início da exploração
dos temas históricos através da afirmação
do muralismo.
Em 1948, Portinari se auto-exila no Uruguai, por motivos políticos,
onde pinta o painel A Primeira Missa no Brasil, encomendado pelo
Banco Boavista do Rio de Janeiro.
Em 1949 executa o grande painel Tiradentes, narrando episódios
do julgamento e execução do herói brasileiro,
que lutou contra o domínio colonial português. Por
este trabalho, Portinari recebeu, em 1950, a Medalha de Ouro concedida
pelo júri do Prêmio Internacional da Paz, reunido em
Varsóvia.
Em 1952, atendendo à encomenda do Banco da Bahia, realiza
outro painel com temática histórica: A Chegada da
Família Real Portuguesa à Bahia, e inicia os estudos
para os painéis Guerra e Paz, oferecidos pelo governo brasileiro
à nova sede da Organização das Nações
Unidas. Concluídos em 1956, os painéis, medindo cerca
de 14 x 10m cada 'os maiores pintados por Portinari' encontram-se
no hall de entrada dos delegados do edifício-sede da ONU,
em Nova York.
Em 1954, Portinari realiza, para o Banco Português do Brasil,
o painel Descobrimento do Brasil. Neste mesmo ano, tem os primeiros
sintomas de intoxicação das tintas, que lhe será
fatal. Em 1955 recebe a Medalha de Ouro, concedida pelo International
Fine Arts Council de Nova York, como o melhor pintor do ano.
Em 1956 faz os desenhos da Série D. Quixote e viaja para
Israel, a convite do governo daquele país, expondo em vários
museus e executando desenhos inspirados no contato com o recém-criado
estado israelense e expostos posteriormente em Bolonha, Lima, Buenos
Aires e Rio de Janeiro. Neste mesmo ano recebe o Prêmio Guggenheim
do Brasil e, em 1957, a Menção Honrosa no Concurso
Internacional de Aquarelas do Hallmark Art Award, de Nova York.
No final da década de 50 Portinari realiza diversas exposições
internacionais, expondo em Paris e Munique em 1957. é o único
artista brasileiro a participar da exposição '50 Anos
de Arte Moderna', no Palais des Beaux Arts, em Bruxelas, em 1958,
e expõe como convidado de honra, em sala especial, na 'I
Bienal de Artes Plásticas' da Cidade do México.
Em 1959 expõe na Galeria Wildenstein de Nova York e em 1960
organiza importante exposição na Tchecoslováquia.
Em 1961 o pintor tem diversas recaídas da doença
que o atacara em 1954 - a intoxicação pelas tintas
-, entretanto, lança-se ao trabalho para preparar uma grande
exposição, com cerca de 200 obras, a convite da Prefeitura
de Milão.
Candido Portinari falece no dia 6 de fevereiro de 1962, vítima
de intoxicação pelas tintas que utilizava.
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